FMI mais próximo de intervir em Portugal.
Veja como foi em 1983
Falência do país é «quase certa». Também há 27 anos o Fundo Monetário Internacional
teve de tomar as rédeas da recessão
1983: o ano do FMI em Portugal. Vinte e sete anos depois, o país pode estar mais próximo do passado do que nunca. O FMI veio esta sexta-feira lamentar a «quase certa» falência de Portugal. Também há quase 30 anos o FMI tomou as rédeas da recessão.
«Sabíamos que os homens e a mulher do FMI estavam em Lisboa. Soubemos do hotel. Eu e o Ferreira Fernandes fizemos uma espécie de espera, penso que de dois dias, para tentarmos tirar algumas imagens dessa equipa e também para sabermos o que é que eles estavam cá a fazer», recordou à TVI o fotógrafo Luiz Carvalho.
Naquela altura, à frente do Governo de Bloco Central estava Mário Soares e Mota Pinto. A pasta das Finanças era de Ernani Lopes.
Sem escapatória possível, o país precisava da ajuda do FMI. «Havia consenso na classe política? Houve necessidade. Era essencial chamar, porque senão não conseguiríamos sequer pagar as importações. Naquela altura era a sobrevivência da capacidade de, inclusive, importar comida», sublinhou o ex-ministro das Finanças, Braga de Macedo.
Foi negociado um empréstimo de 750 milhões de dólares.
«Os programas do FMI em 1977 e 1983 em Portugal tiveram um enorme sucesso. O país cresceu», salientou o ex-economista chefe do FMI, Kenneth Roggof.
É que, na verdade, já antes de 1983 o país tinha recorrido ao fundo, na sequência do choque petrolífero do início da década de 70 e da instabilidade que se gerou o pós-25 de Abril.
Os pedidos do FMI
O ex-governador do Banco de Portugal, José da Silva Lopes, enumerou os pedidos do FMI: «Obrigou-nos a fazer a desvalorização da moeda, obrigou-nos a subir as taxas de juro, obrigou-nos a limitar o crescimento do crédito ao sector produtivo».
Silva Lopes traça o cenário do mercado de trabalho naquele período: «Tínhamos uma exportação muito baseada em salários baixos e exportávamos para países ricos. Houve uma quebra do poder de compra dos trabalhadores e as empresas exportadoras ficaram com mais margem para poder exportar». Assim, apesar da «queda dos salários reais», «melhorou o mercado de trabalho, porque os trabalhadores, em vez de irem tanto para o desemprego, acabaram por ter empregos e o emprego cresceu bastante».
Certo é que era o descontentamento que imperava nas ruas. Os trabalhadores protestavam contra o corte do subsídio de Natal, contra os cortes salariais e contra os despedimentos. A conjuntura era negra, já que o desemprego atingiu os 11%.
«Foram situações muito difíceis mas, repare, a situação pré-existente, que era de uma inflação que chegou aos 30% e havia o recurso ao crédito, que era completamente racionado», lembra Braga de Macedo.
«Não é o fim do mundo se o FMI vier aí»
A partir de meados da década de 80, a expansão internacional empurrou Portugal para períodos de crescimento mais animadores. Em 1985, Cavaco Silva foi eleito primeiro-ministro, herdando um país inserido na Comunidade Económica Europeia (CEE).
Um período de fartura: os fundos comunitários não paravam de aterrar em Portugal, mas o país gastou mais do que produziu. Consequência? Crises cíclicas, como a que agora vivemos.
Daí que o ex-economista chefe do FMI não hesite em afirmar que «não é necessariamente o fim do mundo se o FMI vier aí».
Fonte: Agencia Financeira 05/11/2010
In : Crise
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